segunda-feira, 11 de junho de 2007

O que seria o labirinto de Creta?


Na descrição de alguns historiadores, a obra máxima e colossal de Creta era composta por milhares de caminhos que se cruzavam em complexas encruzilhadas, ruas sem saída, trechos com abismos Intransponíveis rios, penhascos, portas trancadas sem chaves. Esse labirinto não tinha teto, sua cobertura era o céu.


Esta imagem da construção do labirinto de Cnossos é intrinsecamente paradoxal: por um lado, é um cárcere; por outro, oferece o céu como limite. Como opostos que se anulam, a dupla prisão-altitude parece nos exigir uma leitura mais cuidadosa.


Qual é o sentido de se pensar e se construir um labirinto a céu aberto?


Segundo outros autores, não havia um labirinto em Creta. Mas, sim, dois. O segundo era um traçado feito no chão, que servia de esquema para uma dança sagrada: a dança de Teseu. Já outros estudiosos afirmam que o labirinto de Creta seria apenas um Palácio bastante grande, se comparado às construções do mesmo período, encontradas em Atenas. Com a grandiosidade da construção, os aposentos reais ficavam bastante protegidos. Segundo essa linha de argumentação, Cnossos seria o centro de uma civilização bastante influente no Mediterrâneo, que teve seu apogeu entre os anos 2400 e 1400 a.C.

Imagem:
1 - "desenho do palácio de Cnossos" - 2 - "Afresco de uma parede do Palácio de Cnossos. Séc. 17-15 a.C" - 3 - "Planta do palácio de Cnossos" - 4 - "ruinas do palácio de Cnossos" - 4 - "Oferendas localizadas nas ruínas do Palácio de Cnossos"

A busca do Minotauro


Descreverei um pouco sobre a narrativa mítica da busca do minotauro e o labirinto de creta:


Segundo a mitologia grega, na mais conhecida de suas versões, Minos recebe de Posídon um touro maravilhoso de presente. No entanto, o deus dos mares exige que esse animal seja, posteriormente, ofertado em sacrifício. Minos, devido à sua personalidade gananciosa, nega-se a devolvê-la. Como punição, Afrodite intercede fazendo com que sua esposa, a rainha Pasífae, se apaixone terrivelmente pelo touro. Dessa união nascerá um monstro terrível, o Minotauro, metade homem, metade touro. Para esconder aquilo que se tornou a vergonha de Minos, o artesão Dédalo cria o labirinto.


O próprio nome Dédalo, em sua polissemia, nos leva a refletir sobre os significados ocultos do labirinto, pois se consultarmos a palavra "dédalo" em um dicionário comum, veremos que esse substantivo significa caminho confuso, entrecortado por encruzilhadas ou, ainda, coisa complicada, obscura. O termo é usado também para se referir ao traçado de grandes cidades: "o dédalo das metrópoles". Etimologicamente, temos Dédalo: do grego Dáidalos, "obreiro astucioso" ou, ainda, criativo, engenhoso, hábil.


Artífice ateniense lendário, filho de Metión e descendente de Hefesto, deus do fogo e ferreiro, Dédalo era tão habilidoso que se dizia que suas esculturas podiam se mexer. No início de sua carreira, Dédalo tinha uma oficina em Atenas. Entre seus engenhos desse período, podemos citar criações tais como o mastro, a vela, o machado, o nível dos pedreiros, etc. Suas esculturas e seus projetos arquitetônicos eram bastante requisitados.


Em Creta foi acolhido pelo tirano Minos, que logo o escravizaria. A partir de então, Dédalo não teve mais liberdade para criar, sendo obrigado a realizar aquilo que seu soberano lhe ordenasse. Suas atitudes são sempre paradoxais: foi através de um engenho de Dédalo que Pasífae pôde efetivar seu amor com o touro.


Como, construtor do labirinto, é Dédalo quem ensina a Ariadne uma solução para que Teseu consiga achar a saída. Teseu tinha sido mandado para Creta voluntariamente, como sacrifício ao minotauro que habitava o labirinto pois de tão bem projetado quem se aventurasse por ele não conseguiria mais sair e era devorado pelo minotauro. Porém Ariadne, filha de Minos (rei de Creta) apaxona-se por Teseu e a fim de ajudar o amado, deu a ele uma espada e um novelo de linha para que ele pudesse achar o caminho de volta.


Como punição por ter ajudado Teseu e Ariadne, Dédalo é preso no labirinto com seu filho, Ícaro. Imagem extremamente forte, temos agora o artista prisioneiro de sua própria obra. Para escapar desse presídio, Dédalo, mais uma vez, usará sua criatividade. Assim, o arquiteto desenvolve asas de cera. Em uma antecipação de séculos, pai e filho conseguem escapar. Ícaro, porém, com sua juventude e inexperiência, fascinado com a beleza do pôr-do-sol, tenta voar alto demais. Suas asas derretem e ele morre.


Fazendo uma pequena síntese dessa narrativa mítica, temos que o labirinto grego se liga, intimamente, à figura do Minotauro, como sua solitária morada e prisão. E o Minotauro, por sua vez, está ligado diretamente à pessoa de Pasífae e sua infidelidade.


Imagem: 1 - "Busto do Minotauro" de Marsyas - 2 - "Teseu mata o Minotauro no labirinto de Creta" mosaico - 3 - "Icarus and Daedalus " Charles Paul Landon 1799 - 4 - "A caída de Ícaro" de Jacob Peter Gowy 1636-37

segunda-feira, 4 de junho de 2007

O labirinto e as Produções literárias

A idéia e o ideal de labirinto manifestam-se em produções literárias.

São expoentes dessa influência o poeta espanhol Juan Ramón Jimenez (publicou em 1910 uma coletânea de poemas – Labirinto) e García Lorca que certa vez disse:

“Labirinto confuso, com estrelas escuras, que divide em duas partes a minha ilusão, como se esta fosse um objeto já podre.”

Jorge Luís Borges nomeou uma de suas obras com o título Os Labirintos, na qual escreveu sob forte inspiração:

“Infelizmente eu sonhava com um labirinto pequeno e limpo, no centro do qual se encontrava uma ânfora que meus olhos viam e que as minhas mãos quase tocavam. Contudo, os caminhos eram bem complicados, a ponto de eu já ter a certeza de morrer, mesmo antes de atingir o meu objetivo.”

Já na França, o tema do labirinto encontra-se também inserido na linguagem, pois os franceses, em vez de dizerem: pentear-se, diziam: délabyrinthiser le cheveux (deslabirintizar os cabelos).

Há também aqueles que acreditam no fascínio do homem pelos labirintos como René Char (poeta francês) em seu trecho

“O homem recusa-se a deixar os seus labirintos”.

O mito milenar constrange-o a conservá-los, e Henri Michaux que convito afirma:

“No labirinto se encontra o caminho certo”.

Já Paul Éluard (famoso poeta surrealista francês) inspira-se e encerra o labirinto como parte de uma imagem surrealista:

“Luz negra, incêndio antigo, com os cabelos perdidos no labirinto”.

Mais pq o Labirinto ?¿

O labirinto apresenta uma historicidade unificadora das dimensões de visível e imprevisível presentes na realidade .
O próprio vocábulo inglês maze (labirinto) significa admiração, estupefação diante do desconhecido, do imprevisível.
A busca do ponto central ritma um impulso mais além, à perfeição, seja espiritual ou mística, mas certamente integrada a um ideal de sabedoria e conhecimento.
No paradoxo do homem sem Deus, surge a insegurança que busca sua superação em sentimentos contraditórios como a necessidade da liberdade.
O inteligível categórico de Aristóteles entra em crise. O homem barroco tem medo do que é espontâneo. Busca descobrir o real através do encoberto, da metáfora; a realidade necessita ser desvelada.

Repercussão


O tema e o fascínio do labirinto não esta apenas nos entrelaçamentos de Leonardo Da Vinci, ele ressurgi, e de maneira bastante “explosiva”, nos séculos XVI e XVII (junto ao estilo Maneirista) e ainda entre os anos de 1880 e 1950.

Sua manifestação insere-se na experiência abstracionista das obras de artistas como Klee e Mondrian, nos quais a gestualidade do abstrato não se refere apenas a um simples brincar de formas e cores, à arte do abstrair-se, mas a toda uma dinâmica de simbolização do supra-real inacessível. “Grande é a pureza de Klee! Muitos de seus quadros são considerados como blasfêmias e como orações criptográficas”

Imagem:"VICTORY BOOGIE WOOGIE" de PIET MONDRIAN (1942 / 1944) - Última obra de Mondrian, interrompida pelo seu falecimento em 1944 (NY). Obra inacabada, que tornou em seu trabalho mais famoso.